Educação Sob A Ditadura: Censura E Ideologia No Brasil (1964-1985)
E aí, galera! Vamos mergulhar em um período super complexo e determinante da nossa história brasileira: o regime militar, que durou de 1964 a 1985. Mas não vamos focar só nos tanques e nos presidentes, não. Hoje, a gente vai bater um papo sério sobre como esse período impactou e moldou a estrutura e o conteúdo do nosso sistema educacional, especialmente no que diz respeito àquela palavra que arrepia muita gente: a censura e a famosa formação ideológica. Afinal, a escola é um espelho da sociedade, e se a sociedade estava sob um regime autoritário, é claro que a educação sentiria o peso. Vocês já pararam para pensar o quanto a forma como aprendemos hoje pode ter raízes lá atrás? É uma viagem no tempo que nos ajuda a entender melhor o presente e valorizar a liberdade que temos hoje em sala de aula. Vamos juntos desvendar as principais mudanças implementadas e como elas ainda ressoam por aí!
O Contexto Pré-Golpe: Uma Educação em Ebulição
Antes mesmo da instauração do regime militar no Brasil em 1964, a educação já era um campo de intensos debates e grandes expectativas. Pensem só, pessoal: o Brasil vivia um período de efervescência cultural, social e política. Havia um movimento forte pela democratização do ensino e pela expansão das oportunidades educacionais para todos, não apenas para uma elite. Educadores progressistas, como o icônico Paulo Freire, estavam propondo metodologias inovadoras que visavam não só ensinar a ler e escrever, mas também conscientizar os alunos sobre sua realidade social e política. A ideia era formar cidadãos críticos, capazes de participar ativamente da construção de um país mais justo. Existia um sonho, sabe? Um sonho de uma educação que transformasse e libertasse. Esse período era marcado por discussões acaloradas sobre a função social da escola, a importância da educação pública e a necessidade de reformas que atendessem às demandas de uma população que crescia e se urbanizava rapidamente. Projetos de lei, movimentos estudantis, intelectuais engajados – tudo isso fazia parte de um cenário onde a educação estava no centro das atenções e era vista como motor de desenvolvimento e igualdade social. Havia uma Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) fresquinha, de 1961, que já tentava organizar o sistema, mas que muitos consideravam ainda insuficiente diante da grandiosidade dos desafios. Contudo, essa efervescência, essa busca por uma educação mais inclusiva e crítica, começou a ser vista com desconfiança por alguns setores conservadores da sociedade. Para eles, essa liberdade de pensamento e essa ênfase na criticidade poderiam ser um terreno fértil para ideias que consideravam subversivas ou, na linguagem da época, comunistas. A polarização política daquele tempo era brutal, e a educação, com seu poder de formar mentes e disseminar ideias, se tornou um alvo estratégico. O que para uns era progresso e liberdade, para outros era uma ameaça à ordem e à moral tradicional. É crucial entender esse pano de fundo, essa tensão latente, para compreender a profundidade das mudanças que viriam a ser impostas com a chegada do regime militar. A educação, que estava no epicentro de uma revolução silenciosa, logo se tornaria um dos primeiros campos a sentir o peso da intervenção e do controle de um governo que prometia "restaurar a ordem" e "combater a subversão". Era o palco perfeito para o que viria a seguir: um verdadeiro choque de ideologias e métodos pedagógicos, que transformaria radicalmente a vida de estudantes e professores por mais de duas décadas. Por isso, a gente não pode separar a história da educação da história política do país, porque elas estavam profundamente entrelaçadas nesse momento crucial. A escola, afinal, é um espaço de poder e de disputa de narrativas, e o regime militar soube disso como poucos, utilizando-a como uma das suas principais ferramentas de formação ideológica. Essa percepção do potencial transformador e desestabilizador da educação foi, ironicamente, o que a colocou na mira dos militares, que buscavam uma educação que uniformizasse o pensamento e legitimasse o regime, em vez de questioná-lo. E assim, o sonho de uma educação libertadora começou a ser substituído por um projeto de disciplina e controle.
A Intervenção Militar na Educação: Novas Estruturas e Objetivos
Com a chegada do regime militar em 1964, a educação brasileira rapidamente se tornou um dos alvos prioritários para reformas e reestruturações que visavam alinhar o sistema aos novos objetivos do governo. Gente, não foi pouca coisa, viu? As mudanças não foram apenas superficiais; elas atingiram a espinha dorsal de como se pensava e se praticava o ensino no país. O objetivo central era claro: despolitizar o ambiente escolar e universitário, combater o que era chamado de "subversão" e, ao mesmo tempo, promover uma educação que contribuísse para o "desenvolvimento nacional", segundo a ótica do regime. Isso significava formar técnicos e profissionais para o mercado de trabalho, em detrimento de pensadores críticos e engajados politicamente. Aquele sonho de uma educação libertadora que mencionamos antes foi brutalmente interrompido. O governo militar implementou várias medidas legislativas que redesenharam completamente o mapa educacional.
A Reforma Universitária de 1968: O Choque nas Universidades
Uma das primeiras grandes intervenções e, talvez, a mais impactante para o ensino superior, foi a Reforma Universitária de 1968, instituída pela Lei nº 5.540/68. Em pleno auge dos protestos estudantis – a famosa Passeata dos Cem Mil ocorreu nesse mesmo ano –, o regime impôs uma reestruturação radical nas universidades. O objetivo principal era disciplinar e modernizar o ensino superior, mas sob uma perspectiva totalmente tecnicista e produtivista. A universidade, que antes era vista como um centro de debate e crítica, deveria se tornar uma "fábrica" de profissionais qualificados para impulsionar o "milagre econômico" brasileiro. A gente pode observar mudanças como a criação de departamentos, a introdução do sistema de créditos, a ênfase na pesquisa aplicada e a abertura para o setor privado nas universidades. Tudo isso, em teoria, visava a eficiência e a racionalização, mas na prática, serviu também para fragmentar os movimentos estudantis, que eram grandes focos de oposição ao regime. Com a divisão dos cursos em departamentos e a separação dos alunos em disciplinas, a coesão e a capacidade de organização dos estudantes foram severamente enfraquecidas. Muitos professores considerados "subversivos" ou "ideológicos" foram compulsoriamente aposentados, cassados ou exilados, abrindo espaço para a entrada de docentes mais alinhados com a ideologia do governo. A autonomia universitária, um pilar fundamental para a liberdade acadêmica, foi severamente restringida. A reforma de 1968, embora tenha trazido algumas inovações administrativas, foi percebida por muitos como um instrumento de controle e despolitização, visando calar a voz crítica que emanava dos campi universitários. A ênfase excessiva em cursos profissionalizantes e técnicos também desviou o foco das humanidades e das ciências sociais, consideradas áreas mais propensas a fomentar o pensamento crítico e a contestação. Essa foi uma virada de chave gigantesca para nossas universidades, mudando a forma como elas funcionavam e o que se esperava delas.
A Lei nº 5.692/71: A Nova Cara do Ensino Básico e Médio
Não demorou muito para que as garras do regime alcançassem também o ensino de 1º e 2º graus (o que hoje chamamos de ensino fundamental e médio). A Lei nº 5.692/71 foi outro marco legislativo crucial, que remodelou completamente o ensino básico no Brasil. Essa lei tornou o ensino profissionalizante obrigatório no que era o 2º grau. A ideia era que os jovens já saíssem da escola com uma profissão ou, pelo menos, com alguma qualificação técnica, alinhando a educação às necessidades do mercado de trabalho e, novamente, ao "desenvolvimento nacional" planejado pelo regime. O objetivo era evitar que os alunos seguissem para a universidade e, consequentemente, que tivessem acesso a ambientes mais politizados. Essa obrigatoriedade, no entanto, enfrentou muitas dificuldades de implementação, pois faltavam estrutura, professores qualificados e laboratórios adequados em muitas escolas, especialmente nas públicas. O currículo foi uniformizado, e a educação passou a ter um caráter mais homogêneo e centralizado. Além da profissionalização, a lei de 1971 instituiu oficialmente disciplinas que seriam verdadeiros veículos da formação ideológica do regime: a Educação Moral e Cívica (EMC) e a Organização Social e Política Brasileira (OSPB). Essas disciplinas, sobre as quais falaremos em detalhes mais adiante, tinham o papel explícito de inculcar valores como patriotismo, respeito à ordem, disciplina e lealdade ao governo, desestimulando qualquer tipo de pensamento crítico ou contestação. Em resumo, tanto a reforma universitária quanto a reestruturação do ensino básico e médio tinham como pano de fundo a tentativa de controlar o fluxo de informações, moldar a mentalidade dos estudantes e formar cidadãos obedientes e úteis ao projeto de nação imposto pelo regime militar. O foco na técnica e na moralização, em detrimento do pensamento crítico e da liberdade, foi a marca registrada dessa intervenção. Foi um período em que a escola, mais do que um espaço de descoberta e questionamento, se tornou uma ferramenta de legitimação e reprodução dos valores de um governo autoritário. E é importante a gente entender isso para valorizar a liberdade que temos hoje em debater e questionar tudo na sala de aula.
Censura e Controle Ideológico: As Garras da Ditadura nas Escolas
Ah, pessoal, chegamos a um ponto crucial e talvez o mais assustador do impacto do regime militar na educação: a censura e o controle ideológico. Imaginem só a cena: a escola, que deveria ser um lugar de liberdade de pensamento e debate de ideias, se transformando em um ambiente onde cada palavra, cada livro, cada pensamento era vigilado e peneirado. Foi exatamente isso que aconteceu, e as garras da ditadura alcançaram cada canto do nosso sistema educacional, desde as salas de aula do ensino fundamental até os corredores das universidades mais prestigiadas. O objetivo era silenciar qualquer voz dissonante, eliminar qualquer foco de oposição e moldar a mente dos estudantes para que se alinhassem aos valores do regime, que prezava pela ordem, segurança e disciplina, acima de tudo. Essa não foi uma ação isolada, mas sim uma estratégia sistemática e abrangente que afetou professores, alunos, currículos e materiais didáticos.
Vigilância e Perseguição: Professores e Alunos na Mira
Primeiramente, a galera da educação, tanto professores quanto alunos, se viu sob uma vigilância constante. Professores que tinham um histórico de engajamento político, que defendiam ideias de esquerda ou que simplesmente ousavam discutir temas sensíveis em sala de aula, eram alvo de perseguição. Muitos foram afastados, demitidos, aposentados compulsoriamente, presos e até torturados. Universidades, que antes eram centros vibrantes de ativismo estudantil, foram militarizadas, e a presença de agentes de segurança (muitas vezes, infiltrados) se tornou comum. A liberdade de cátedra, que é o direito do professor de lecionar sem interferências externas, foi severamente comprometida. Era um ambiente de medo e autocensura, onde a expressão de opiniões contrárias ao regime poderia ter consequências gravíssimas. Além dos professores, os estudantes também sofreram. Organizações estudantis foram criminalizadas, e líderes estudantis foram perseguidos, presos e, em muitos casos, desaparecidos. Aquele vigor e a energia da Passeata dos Cem Mil, por exemplo, foram respondidos com uma repressão brutal. A vida acadêmica, que deveria ser um espaço de livre investigação e descoberta, foi cerceada pelo medo e pela repressão. O simples ato de ler um livro considerado "subversivo" ou participar de uma discussão política poderia colocar um estudante em uma situação de extremo perigo. A universidade, que deveria ser um farol de liberdade, se tornou um local onde o silêncio era frequentemente a estratégia de sobrevivência.
Conteúdo Programático e Livros Didáticos: Uma Reescrita da História
E não parou por aí, gente. A censura também se estendeu ao conteúdo programático e aos livros didáticos. O governo militar sabia que, para moldar a ideologia, era preciso controlar o que era ensinado e como era ensinado. Houve uma revisão profunda dos currículos, com a remoção de conteúdos considerados perigosos ou que pudessem estimular o pensamento crítico. Matérias como Sociologia, Filosofia e História, que eram vistas como "focos de subversão", foram reduzidas, modificadas ou até mesmo suprimidas do currículo do ensino médio. Em contrapartida, houve um reforço de disciplinas técnicas e científicas, alinhando a educação aos interesses do regime de desenvolvimento econômico e industrialização, sem o "incômodo" de questionamentos sociais ou políticos. Os livros didáticos passavam por uma rigorosa censura prévia. Autores considerados "de esquerda" ou "críticos" eram banidos, e seus livros, retirados das escolas. As editoras eram pressionadas a publicar materiais que estivessem em conformidade com a ideologia do regime, enaltecendo a figura do "homem brasileiro trabalhador e ordeiro", o "progresso" e o "patriotismo" conforme a visão dos militares. A história do Brasil era recontada, suavizando os momentos de repressão e destacando os feitos dos governos militares. A obra de educadores como Paulo Freire, com sua pedagogia do oprimido e sua ênfase na conscientização, foi proibida e perseguida, sendo vista como perigosíssima para a "ordem" estabelecida. Imagine só, os professores tinham que reorganizar suas aulas para evitar temas que pudessem ser mal interpretados ou denunciados. Isso não apenas empobreceu o ensino, mas também criou uma geração de alunos que teve acesso a uma versão filtrada e controlada da história e das ciências sociais.
Disciplinas Obrigatórias: EMC e OSPB como Ferramentas de Indoutrinação
Mas o auge da formação ideológica se deu com a instituição de duas disciplinas obrigatórias: a Educação Moral e Cívica (EMC) e a Organização Social e Política Brasileira (OSPB). Galera, essas matérias não eram apenas mais algumas disciplinas no currículo; elas eram verdadeiras ferramentas de doutrinação. A EMC, por exemplo, visava inculcar valores como patriotismo exacerbado, respeito à autoridade, disciplina, ordem e valores da família tradicional brasileira. Os livros de EMC eram cheios de hinos, símbolos nacionais, datas cívicas e discursos que exaltavam a figura do "bom cidadão", que era, claro, aquele que não questionava o regime. Já a OSPB tinha o papel de legitimar a estrutura política e social vigente, apresentando a ditadura como a única via possível para o progresso do Brasil. Ela "explicava" a Constituição de 1967 (que foi imposta pelo regime), as instituições e a organização do Estado, sempre sob uma ótica que justificava as ações do governo militar. A crítica, a análise profunda e o debate eram desencorajados nessas aulas. Em vez disso, esperava-se que os alunos absorvessem passivamente os conteúdos e os valores transmitidos. Essas disciplinas eram obrigatórias em todos os níveis de ensino, desde as séries iniciais até o ensino médio, garantindo que a ideologia do regime permeasse a formação de todas as gerações de estudantes. O objetivo era claro: formar jovens que fossem leais ao Estado e que não questionassem o status quo. E assim, o ambiente educacional, que deveria ser um celeiro de ideias e um motor de transformação social, acabou se tornando um palco para a imposição de uma única verdade, controlada e vigiada de perto pelas garras da ditadura. As consequências dessa época para a liberdade de pensamento e para a qualidade da nossa educação ainda são debatidas e sentidas até hoje. É um lembrete poderoso de como a educação pode ser usada tanto para libertar quanto para controlar.
O Reflexo nas Universidades: Repressão, Fuga de Cérebros e Silêncio
Se a educação básica sentiu o peso da censura e do controle ideológico, as universidades, pessoal, foram um epicentro de repressão e transformação radical durante o regime militar. Como já falamos um pouco sobre a Reforma Universitária de 1968, que visava disciplinar e modernizar sob uma ótica tecnicista, é importante a gente aprofundar um pouco mais nos impactos diretos que essa e outras medidas tiveram na vida acadêmica. A universidade, antes um caldeirão de ideias, debates e ativismo político, se viu sob uma pressão imensa para se calar e se alinhar aos desígnios do governo. Não foi fácil pra ninguém, e o legado desse período ainda reverbera nos corredores acadêmicos de hoje.
O ambiente universitário, com seus estudantes e professores mais engajados e com acesso a uma vasta gama de conhecimentos, era visto pelos militares como um perigo iminente, um foco de subversão que precisava ser neutralizado. A repressão começou de forma sistemática. Professores considerados de esquerda, críticos do governo ou simplesmente muito liberais em suas abordagens pedagógicas foram violentamente expurgados. Muitos foram cassados, tendo seus direitos políticos suspensos e sendo proibidos de lecionar, o que significava o fim de suas carreiras acadêmicas. Outros foram presos, torturados e forçados ao exílio, buscando refúgio em outros países para poder continuar sua produção intelectual e até mesmo sobreviver. Essa perseguição de professores e pesquisadores gerou uma fuga de cérebros sem precedentes. O Brasil perdeu talentos brilhantes em diversas áreas do conhecimento, que foram obrigados a construir suas vidas e carreiras em outras nações. A qualidade do ensino e da pesquisa sofreu um golpe duríssimo, pois a saída desses intelectuais deixou lacunas que demoraram anos para serem preenchidas. Aquela pluralidade de ideias e a riqueza do debate que são essenciais para o florescimento acadêmico foram severamente empobrecidas.
Para os que permaneceram, a realidade era a da perda da autonomia universitária e da liberdade acadêmica. Com a imposição de novas estruturas e a vigilância constante, a autocensura se tornou uma prática comum. Professores e pesquisadores evitavam temas "sensíveis" ou "polêmicos" em suas aulas e pesquisas para não se tornarem alvo da repressão. As áreas de humanidades e ciências sociais, que por natureza estimulam o pensamento crítico e a análise das estruturas de poder, foram as mais atingidas. Houve um desinvestimento nessas áreas, com recursos e incentivos sendo desviados para os campos tecnológicos e científicos, que eram vistos como mais úteis ao projeto de desenvolvimento nacional do regime e menos propensos a gerar contestações. O Ato Institucional nº 5 (AI-5), de 1968, que suspendeu uma série de direitos civis e liberdades individuais, teve um impacto devastador nas universidades. Ele permitiu que o regime agisse com ainda mais arbitrariedade, intensificando as perseguições e calando de vez os movimentos estudantis e docentes. A entrada da polícia militar nos campi universitários, que antes era uma exceção, tornou-se algo corriqueiro, transformando as universidades em extensões do aparato repressivo do Estado.
Os estudantes, por sua vez, viram seus direitos de organização e expressão serem esmagados. As entidades estudantis, como a União Nacional dos Estudantes (UNE), foram colocadas na ilegalidade, e a participação em qualquer tipo de manifestação política era um risco de vida. Muitos jovens foram presos, torturados e mortos por defenderem a democracia e a liberdade. A universidade, que deveria ser um espaço de formação para a cidadania plena, passou a formar profissionais alienados politicamente ou, na melhor das hipóteses, silenciados pelo medo. O foco foi desviado para a obtenção do diploma e para a entrada no mercado de trabalho, com pouquíssimo espaço para a reflexão crítica sobre a sociedade. Em suma, o período do regime militar marcou a universidade brasileira com uma ferida profunda. A repressão, a fuga de cérebros e o silenciamento acadêmico não apenas comprometeram a qualidade da educação superior por décadas, mas também deixaram um legado de trauma e a necessidade de reconstruir a cultura de liberdade e autonomia que só foi possível com o retorno da democracia. A universidade foi forçada a se tornar um ambiente de conformidade, perdendo muito de sua essência como farol de conhecimento e crítica.
Resistência e Legados: A Voz que Não se Calou
Mesmo com toda a repressão e a censura impostas pelo regime militar na educação, galera, a história nos mostra que a resistência nunca foi completamente calada. O espírito humano, e especialmente o brasileiro, tem uma capacidade incrível de encontrar brechas e maneiras de protestar, questionar e manter viva a chama da liberdade e do pensamento crítico. Apesar do clima de medo, da vigilância e das punições severas, houve quem ousasse desafiar o status quo e lutar por uma educação mais livre e democrática. As vozes de resistência, mesmo que por vezes sussurradas, foram cruciais para que o legado desse período não fosse apenas de opressão, mas também de uma luta incansável pela redemocratização e pela valorização da autonomia educacional.
Os movimentos estudantis foram, sem dúvida, um dos maiores focos de resistência. Mesmo com a UNE na ilegalidade e seus líderes perseguidos, a garra dos estudantes não se desfez completamente. Em 1968, antes do AI-5 apertar ainda mais o cerco, a Passeata dos Cem Mil no Rio de Janeiro foi um grito ensurdecedor contra a ditadura, e a pauta educacional estava no centro das reivindicações. Eles pediam mais recursos para o ensino, o fim da repressão e o restabelecimento das liberdades democráticas. Após o AI-5, a repressão se intensificou, mas a resistência se tornou mais clandestina, se organizando em pequenos grupos, distribuindo panfletos, fazendo reuniões secretas e buscando formas de manter a mobilização. Muitos jovens arriscaram suas vidas para defender a universidade como um espaço de liberdade. A história deles é um testemunho da coragem e da resiliência diante da opressão.
No ambiente acadêmico, mesmo com a fuga de cérebros e a autocensura, muitos professores e pesquisadores encontraram formas sutis de resistir. Em algumas salas de aula, discussões "oficiais" eram contornadas para permitir a análise crítica da realidade. Pesquisas que poderiam ser consideradas arriscadas eram desenvolvidas em universidades do exterior por exilados ou conduzidas no Brasil com metodologias que "mascaravam" seu verdadeiro propósito. Houve também a proliferação de publicações alternativas e underground, que circulavam de mão em mão, levando informações e análises que a mídia oficial não divulgava. Esses materiais eram fundamentais para manter a pluralidade de pensamento e a capacidade crítica, ainda que em pequena escala. A resistência não era apenas política; era também pedagógica, com educadores tentando preservar métodos que valorizassem o aluno como sujeito ativo, mesmo sob a pressão de currículos engessados e ideológicos.
E qual o legado de tudo isso, gente? O regime militar deixou marcas profundas na educação brasileira, e muitas delas ainda reverberam hoje. Por um lado, houve um inegável avanço na infraestrutura em algumas áreas e a expansão do ensino técnico, que para o governo militar era uma prioridade para o desenvolvimento econômico. Contudo, essa modernização veio a um custo altíssimo para a liberdade de pensamento, a autonomia universitária e a formação crítica dos cidadãos. O desmonte das humanidades, a despolitização das escolas e a perseguição a intelectuais geraram um déficit intelectual e uma lacuna na formação crítica de gerações inteiras. A qualidade do ensino também foi afetada pela falta de investimento adequado nas escolas públicas e pela profissionalização forçada que, muitas vezes, não tinha a estrutura necessária. Quando a democracia começou a ser reconstruída nos anos 80, houve um enorme esforço para reparar esses danos. A Constituição Federal de 1988 trouxe de volta princípios como a liberdade de ensino, a autonomia universitária e a pluralidade de ideias. A nova LDB de 1996 também tentou resgatar a perspectiva de uma educação mais inclusiva, crítica e democrática. Hoje, a gente ainda debate a importância de disciplinas como Sociologia e Filosofia, a valorização das humanidades e a necessidade de uma escola que forme cidadãos críticos e participativos. A lembrança desse período sombrio nos serve como um alerta constante sobre os perigos da censura e da manipulação ideológica na educação. É um lembrete poderoso de que a liberdade de ensinar, aprender e questionar é um pilar inegociável para qualquer sociedade verdadeiramente democrática. Portanto, a resistência daquele tempo não foi em vão; ela pavimentou o caminho para as liberdades educacionais que desfrutamos hoje, e o seu legado nos convoca a permanecer vigilantes e a defender sempre uma educação que liberte, em vez de aprisionar.
Conclusão: Uma Educação Marcada pela História
Ufa! Que jornada intensa, hein, pessoal? Espero que essa nossa conversa tenha deixado bem claro como o regime militar no Brasil, entre 1964 e 1985, deixou uma marca profunda e indelével na estrutura e no conteúdo do nosso sistema educacional. Vimos que não foi uma simples mudança de regras, mas uma intervenção sistemática que buscou remodelar mentalidades e controlar o conhecimento através da censura e da formação ideológica. Desde a reforma universitária de 1968, que tecnificou e despolitizou o ensino superior, até a Lei nº 5.692/71, que impôs a profissionalização no ensino médio e inseriu disciplinas doutrinárias como a EMC e OSPB, cada etapa foi pensada para silenciar a crítica e promover os valores do regime. Professores foram perseguidos, alunos foram reprimidos, livros foram censurados, e a liberdade de pensamento, um pilar da verdadeira educação, foi severamente comprometida. Mas, como destacamos, mesmo diante de tanta opressão, a resistência existiu e foi fundamental para pavimentar o caminho de volta à democracia. O legado desse período é complexo: por um lado, deixou um déficit na formação crítica de gerações; por outro, nos lembra constantemente do valor inestimável da autonomia acadêmica, da liberdade de cátedra e do direito a uma educação plural e democrática. Entender essa parte da nossa história é essencial para que possamos defender, no presente e no futuro, uma educação que seja, de fato, um instrumento de libertação e de construção de cidadania plena. A escola é um reflexo do que queremos ser como sociedade, e a lição do regime militar é um lembrete poderoso de que a liberdade de aprender é indissociável da liberdade de viver. Continuem questionando e aprendendo, galera, porque é assim que a gente fortalece a nossa democracia e a nossa educação!